Cordia sinensis Lam.
A Cordia sinensis, conhecida como cordia-cinza devido às suas folhas distintivas cinza-esverdeadas, é um arbusto ou pequena árvore da família Boraginaceae, nativa das regiões áridas da África e da Ásia. Esta planta robusta, que prospera em condições secas desde o sul da África até a Península Arábica e o subcontinente indiano, tem sido utilizada há séculos pelas comunidades tradicionais africanas e asiáticas como um remédio versátil para uma ampla gama de condições de saúde.
A casca da cordia-cinza é particularmente valorizada na medicina tradicional para o tratamento de distúrbios gástricos, dores no peito e problemas respiratórios. A ciência moderna tem validado muitos desses usos ancestrais, identificando na planta uma rica composição de compostos fenólicos, incluindo ácidos fenólicos e flavonoides glicosídeos, que conferem potentes propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes, antimicrobianas e anti-glicação, tornando-a uma candidata promissora para o desenvolvimento de novos medicamentos naturais.
Nomes populares
Andrab, Cordia-cinza, Grey-leaved cordia (Córdia de folhas cinzas), Grey-leaved saucer berry (Baga-pires de folhas cinzas), Harores, Long-leaf cordia (Córdia de folhas longas), Mader, Marer, Mkamasi, Mkayukayu, Mnya mate, Tadana.
Sinônimos botânicos da Cordia sinensis
Cordia angustifolia Roxb., Cordia cuneata B.Heyne, Gerascanthus sinensis (Lam.) Borhidi.
Cordia gharaf Ehrenb. ex Aschers. – Sinônimo amplamente utilizado na literatura científica, especialmente em estudos sobre a flora da Península Arábica e do Sudão, mas Cordia sinensis tem prioridade nomenclatural.
Cordia rothii Roem. & Schult. – Nome anteriormente utilizado, especialmente na Índia e em estudos botânicos indianos, mas atualmente considerado sinônimo de Cordia sinensis.
Família
Boraginaceae

Ilustração botânica de Cordia sinensis Lam. (cordia-cinza, grey-leaved saucer berry), arbusto da família Boraginaceae nativo da África e Ásia, catalogado em 1784, mostrando folhas cinza-esverdeadas, flores brancas aromáticas e frutos alaranjados, em estilo de enciclopédia botânica vitoriana do século XIX.
Partes usadas
- Casca
- Folhas
- Frutos
- Sementes
Usos tradicionais
- Diarreia
- Disenteria
- Distúrbios gástricos
- Distúrbios respiratórios
- Dor de cabeça
- Dor de estômago
- Dor no peito
- Febre
- Feridas
- Inflamação
- Mialgia
- Problemas digestivos
- Problemas oculares
- Tosse
Propriedades medicinais
- Analgésica (alivia a dor)
- Anticâncer (inibe o crescimento de células cancerígenas)
- Anti-glicação (previne a glicação de proteínas, relevante para diabetes e envelhecimento)
- Anti-inflamatória (reduz a inflamação, comprovada em testes com edema de pata de rato)
- Antimicrobiana (combate o crescimento de microrganismos patogênicos)
- Antioxidante (neutraliza radicais livres, com atividade comparável ao padrão BHA)
- Digestiva (auxilia no processo de digestão e alivia distúrbios gástricos)
- Expectorante (facilita a eliminação de muco das vias respiratórias)
- Hepatoprotetora (protege o fígado contra danos)
Preparações
- Chá (decocção)
- Compressa
- Extrato aquoso
- Extrato etanólico
- Infusão
- Macerado
- Pó
- Suplemento (cápsulas)
- Tintura
Modo de uso
- Chá para Distúrbios Digestivos (Decocção da Casca): Ferver 1 colher de sopa de casca seca e picada de cordia-cinza em 2 xícaras de água por 15 minutos em fogo baixo. Coar e beber morno, 2 a 3 vezes ao dia, antes das refeições. Este método é tradicionalmente usado para aliviar dor de estômago, diarreia e distúrbios gástricos.
- Compressa Anti-inflamatória para Dores Musculares: Preparar uma decocção forte com 2 colheres de sopa de casca ou folhas em 1 xícara de água. Deixar amornar, embeber um pano limpo e aplicar sobre a área afetada por mialgia ou inflamação local. Manter por 20 minutos, repetindo 2 a 3 vezes ao dia.
- Infusão para Tosse e Problemas Respiratórios: Colocar 1 colher de chá de folhas secas de cordia-cinza em 1 xícara de água fervente. Tampar e deixar em infusão por 10 minutos. Coar e beber quente, adoçado com mel se desejar, até 3 vezes ao dia para aliviar tosse e congestão respiratória.
- Pó da Casca para Feridas: Moer a casca seca até obter um pó fino. Aplicar uma pequena quantidade diretamente sobre feridas limpas para promover a cicatrização e prevenir infecções, graças às propriedades antimicrobianas da planta. Cobrir com gaze limpa.
- Tintura para Suporte Digestivo e Hepático: Preencher metade de um frasco de vidro com casca seca e picada de cordia-cinza. Completar com álcool de cereais a 60-70%. Fechar bem e deixar macerar por 4 semanas, agitando diariamente. Coar e tomar de 20 a 30 gotas diluídas em água, 2 vezes ao dia, para suporte digestivo e hepatoprotetor.
Contraindicações e efeitos colaterais da Cordia sinensis
O uso da cordia-cinza é contraindicado para gestantes e lactantes devido à falta de estudos de segurança específicos durante a gravidez e amamentação. Pessoas com hipersensibilidade conhecida a plantas da família Boraginaceae devem evitar o uso. Embora a planta seja tradicionalmente considerada segura quando usada em doses adequadas, o uso excessivo ou prolongado pode causar desconforto gastrointestinal. Não há relatos de toxicidade significativa na literatura científica consultada, mas é sempre recomendável consultar um profissional de saúde antes de iniciar o uso, especialmente se houver condições médicas preexistentes ou uso concomitante de medicamentos. Crianças pequenas devem usar apenas sob supervisão médica.
Fitoquímicos da Cordia sinensis
A casca e as folhas da cordia-cinza são ricas em compostos fenólicos, que são os principais responsáveis por suas atividades farmacológicas. Estudos fitoquímicos isolaram pela primeira vez nove compostos desta espécie, incluindo ácidos fenólicos e flavonoides glicosídeos.
- Ácido gálico
- Ácido protocatecuico
- Ácido rosmarínico
- Ácido trans-cafeico
- Alcaloides
- Esteroides
- Flavonoides
- Kaempferide-3-O-α-L-ramnopiranosil (1→6)-β-D-glucopiranosídeo
- Kaempferide-3-O-β-D-glucopiranosídeo
- Kaempferol-3-O-α-L-ramnopiranosil (1→6)-β-D-glucopiranosídeo
- Kaempferol-3-O-β-D-glucopiranosídeo
- Metil rosmarinato
- Quercetina-3-O-β-D-glucopiranosídeo
- Quinonas terpenoides
- Saponinas
- Taninos
Curiosidades
- O nome científico Cordia sinensis contém um erro histórico interessante. O epíteto sinensis significa “da China” em latim, mas a planta não é nativa da China. Este erro de nomenclatura ocorreu quando Jean-Baptiste Lamarck descreveu a espécie em 1784, provavelmente baseando-se em espécimes mal etiquetados ou em informações incorretas sobre sua origem. Apesar deste equívoco geográfico, o nome foi mantido por prioridade nomenclatural, uma regra fundamental da taxonomia botânica que garante estabilidade aos nomes científicos.
- Um estudo fitoquímico publicado em 2011 na revista Molecules foi pioneiro ao isolar e identificar nove compostos fenólicos da Cordia sinensis pela primeira vez, incluindo ácidos fenólicos como o ácido protocatecuico e flavonoides glicosídeos como a quercetina-3-O-β-D-glucopiranosídeo. Estes compostos foram testados quanto às suas atividades biológicas e demonstraram atividade anti-inflamatória significativa em testes de edema de pata de rato induzido por carragenina, além de potente atividade antioxidante no teste DPPH, com resultados comparáveis ao padrão BHA (hidroxianisol butilado). Este estudo forneceu a primeira base científica sólida para os usos tradicionais da planta.
- A cordia-cinza é uma planta extremamente adaptada a ambientes áridos e semiáridos, prosperando em condições que seriam desafiadoras para muitas outras espécies. Suas folhas cinza-esverdeadas não são apenas uma característica distintiva, mas também uma adaptação evolutiva inteligente: a coloração acinzentada é devida a uma fina camada de pelos ou cera na superfície das folhas, que reflete a luz solar intensa e reduz a perda de água por transpiração. Esta adaptação permite que a planta sobreviva em regiões com precipitação anual muito baixa, desde as savanas africanas até os desertos da Península Arábica, tornando-a uma espécie resiliente e valiosa para comunidades em regiões de escassez hídrica.
Perguntas Frequentes sobre Cordia Cinza
- A cordia-cinza é eficaz para problemas digestivos? Sim, a casca da cordia-cinza é tradicionalmente usada e cientificamente reconhecida por suas propriedades digestivas. Estudos confirmam que seus compostos fenólicos possuem atividade anti-inflamatória que pode aliviar irritações gástricas, e suas propriedades antimicrobianas ajudam a combater infecções intestinais que causam diarreia e disenteria.
- Quais são os principais compostos ativos da cordia-cinza? Os principais compostos ativos são os ácidos fenólicos (ácido protocatecuico, ácido trans-cafeico, ácido rosmarínico) e os flavonoides glicosídeos (quercetina-3-O-β-D-glucopiranosídeo, kaempferol-3-O-β-D-glucopiranosídeo). Estes compostos são responsáveis pelas atividades antioxidante, anti-inflamatória e antimicrobiana da planta.
- A cordia-cinza pode ser usada para diabetes? Embora não haja estudos clínicos específicos sobre o uso da cordia-cinza para diabetes, a planta demonstrou atividade anti-glicação em estudos laboratoriais. A glicação é um processo prejudicial em que açúcares se ligam a proteínas, contribuindo para complicações do diabetes e envelhecimento. Portanto, a planta pode ter potencial como adjuvante, mas mais pesquisas são necessárias.
- Como a cordia-cinza se diferencia de outras espécies do gênero Cordia? A característica mais distintiva da Cordia sinensis são suas folhas cinza-esverdeadas, que lhe renderam o nome popular. Além disso, seus frutos alaranjados-avermelhados em forma de pires (saucer berry) e sua adaptação a ambientes áridos a diferenciam de outras espécies do gênero, como a Cordia myxa, que prefere ambientes mais úmidos.
- A cordia-cinza tem efeitos colaterais? Quando usada em doses adequadas, a cordia-cinza é geralmente considerada segura, com base em seu longo histórico de uso tradicional. No entanto, o uso excessivo pode causar desconforto gastrointestinal. Gestantes, lactantes e pessoas com hipersensibilidade a plantas da família Boraginaceae devem evitar o uso.
- Onde a cordia-cinza é encontrada naturalmente? A cordia-cinza é nativa de regiões áridas e semiáridas da África (do sul da África à África Oriental) e da Ásia (Península Arábica e subcontinente indiano). Ela prospera em condições secas e é frequentemente encontrada em savanas, áreas arbustivas e regiões desérticas.
- A cordia-cinza pode ser cultivada em jardins? Sim, a cordia-cinza pode ser cultivada como arbusto ornamental, especialmente em regiões com clima quente e seco. Ela é valorizada por suas flores brancas aromáticas e por sua resistência à seca. No entanto, não tolera geadas e requer solo bem drenado e exposição solar plena.