A hipertensão arterial, popularmente conhecida como pressão alta, é uma condição crônica que afeta mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo e representa um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, como infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca. Nesse cenário, a busca por estratégias de estilo de vida que possam auxiliar no controle da pressão arterial é constante. Entre as diversas abordagens naturais, o consumo regular de chá verde (Camellia sinensis) tem emergido como um aliado surpreendente e promissor, apoiado por um crescente corpo de evidências científicas.
Embora o chá verde contenha cafeína, um estimulante que pode elevar a pressão arterial a curto prazo, estudos de longo prazo demonstram que seus benefícios superam em muito esse efeito transitório. A complexa interação de seus compostos bioativos, especialmente as catequinas, parece modular positivamente a saúde vascular e contribuir para a regulação da pressão arterial. Este artigo aprofundado explora os mecanismos fisiológicos, as evidências científicas e as recomendações práticas sobre a relação entre o chá verde e a hipertensão.
Análise dos Compostos Bioativos do Chá Verde e Seus Efeitos Hipotensores
Para entender completamente o impacto do chá verde na pressão arterial, é preciso analisar a sinergia de seus componentes principais e como cada um contribui para a saúde cardiovascular.
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Catequinas: Os Polifenóis Protetores
As catequinas são a classe de polifenóis mais abundante no chá verde e respondem pela maioria de seus benefícios cardiovasculares. Embora a epigalocatequina-3-galato (EGCG) seja a mais estudada, o chá verde contém outras catequinas importantes que trabalham em sinergia.
Epicatequina (EC)
A epicatequina demonstrou melhorar a função endotelial e aumentar a produção de óxido nítrico, contribuindo para o relaxamento vascular. Estudos mostram que ela pode ter efeitos sinérgicos com a EGCG.
Epicatequina-3-galato (ECG)
Esta catequina possui potentes propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, protegendo os vasos sanguíneos contra o estresse oxidativo que contribui para o enrijecimento arterial.
Epigalocatequina (EGC)
A EGC complementa a ação da EGCG, oferecendo proteção adicional contra radicais livres e modulando vias inflamatórias relacionadas à hipertensão.
Epigalocatequina-3-Galato (EGCG)
A EGCG é a catequina mais abundante e potente do chá verde. Ela melhora a função endotelial ao ativar a enzima óxido nítrico sintase (eNOS), responsável pela produção de óxido nítrico (NO) no endotélio. O óxido nítrico promove o relaxamento da musculatura lisa dos vasos sanguíneos (vasodilatação), permitindo que o sangue flua com menos resistência. Além disso, a EGCG possui propriedades antioxidantes extremamente potentes que neutralizam radicais livres e protegem o óxido nítrico da degradação.
L-Teanina: O Aminoácido Calmante Presente no Chá Verde
A L-teanina é um aminoácido quase exclusivo da planta do chá, responsável pela sensação de “calma alerta” que diferencia o chá verde de outras bebidas cafeinadas. Ao contrário da cafeína, a L-teanina tem um efeito relaxante no sistema nervoso central. Ela aumenta a produção de ondas cerebrais alfa, associadas a um estado de relaxamento sem sonolência, e pode aumentar os níveis de neurotransmissores calmantes como GABA, serotonina e dopamina.
Essa modulação do sistema nervoso pode ajudar a mitigar a resposta ao estresse, um conhecido gatilho para picos de pressão arterial. A combinação única de L-teanina e cafeína no chá verde oferece um estímulo mais suave e equilibrado do que o café.
Biodisponibilidade: Maximizando a Absorção dos Compostos do Chá Verde

O momento de saborear uma xícara de chá verde fumegante transcende o simples ato de beber uma infusão, representando um ritual milenar de saúde e bem-estar. O vapor que se eleva da xícara carrega consigo não apenas o aroma característico e reconfortante da Camellia sinensis, mas também a promessa de inúmeros benefícios terapêuticos comprovados pela ciência moderna. Cada gole fornece uma dose concentrada de catequinas, especialmente EGCG, polifenóis com potente ação antioxidante que combatem o estresse oxidativo celular.
Um fator crucial para a eficácia do chá verde é a biodisponibilidade de suas catequinas, ou seja, a quantidade que é efetivamente absorvida pelo corpo e chega à corrente sanguínea. A biodisponibilidade da EGCG é relativamente baixa, o que torna importante otimizar sua absorção.
Consumo de Chá Verde com o Estômago Vazio
Beber chá verde com o estômago vazio parece aumentar a absorção das catequinas em comparação com o consumo durante uma refeição, especialmente uma rica em proteínas. As proteínas podem se ligar às catequinas e reduzir sua absorção intestinal.
Temperatura da Água
Embora a água muito quente possa degradar alguns compostos termossensíveis, uma temperatura moderadamente alta (entre 80°C e 85°C) é necessária para extrair eficientemente as catequinas das folhas. Água muito fria não extrai quantidades suficientes de compostos bioativos.
Vitamina C
A adição de suco de limão ou outra fonte de vitamina C ao chá pode aumentar significativamente a estabilidade e a absorção das catequinas no intestino. A vitamina C protege as catequinas da degradação no ambiente alcalino do intestino delgado, permitindo que mais delas sejam absorvidas.
Chá Verde Comparado a Outras Fontes de Flavonoides

A combinação de diferentes frutas vermelhas maximiza a ingestão de diversos tipos de polifenóis e outros compostos bioativos. Cada fruta oferece um perfil único de nutrientes: mirtilos para saúde cerebral, framboesas para fibras e ácido elágico, morangos para vitamina C, e amoras para resveratrol. Assim como o chá verde, estas frutas combatem inflamação, protegem contra doenças cardiovasculares e podem ajudar na prevenção de certos tipos de câncer. A recomendação é consumir uma variedade de cores diariamente.
Os flavonoides, a classe de compostos à qual as catequinas pertencem, são encontrados em muitas plantas e todos demonstraram benefícios cardiovasculares. No entanto, o perfil de flavonoides do chá verde é único.
Cacau
O cacau é rico em procianidinas e também melhora a função endotelial. Um estudo comparativo publicado na Journal of Hypertension mostrou que, embora o cacau também seja eficaz, os mecanismos podem ser ligeiramente diferentes dos do chá verde, sugerindo que a inclusão de diversas fontes de flavonoides na dieta pode oferecer uma proteção cardiovascular mais ampla.
Frutas Vermelhas
Frutas como morangos, mirtilos e framboesas são ricas em antocianinas, outro tipo de flavonoide com propriedades antioxidantes. Embora benéficas, as antocianinas têm mecanismos de ação diferentes das catequinas do chá verde.
Vinho Tinto
O vinho tinto é famoso por seu conteúdo de resveratrol, um polifenol com propriedades cardioprotetoras. No entanto, o álcool presente no vinho pode ter efeitos adversos quando consumido em excesso, limitando sua recomendação como estratégia de saúde.
A vantagem do chá verde é sua baixa caloria, a ausência de açúcar (quando consumido puro) e a ausência de álcool, tornando-o uma escolha fácil e segura para consumo diário regular.
Como o Chá Verde Regula a Pressão Arterial

O monitoramento regular da pressão arterial é fundamental para a saúde cardiovascular, e o chá verde pode ser um aliado importante neste aspecto.
Estudos clínicos demonstram que o consumo regular de chá verde está associado a reduções modestas mas significativas na pressão arterial sistólica e diastólica. As catequinas do chá verde promovem a produção de óxido nítrico, um composto que relaxa os vasos sanguíneos e melhora o fluxo sanguíneo.
Meta-análises indicam que consumir 3-4 xícaras de chá verde diariamente pode reduzir a pressão arterial em 2-3 mmHg, o suficiente para diminuir o risco de eventos cardiovasculares. Os benefícios do chá verde na regulação da pressão arterial não se devem a um único mecanismo, mas a uma ação multifacetada que aborda várias das causas subjacentes da hipertensão.
Ação Antioxidante e Anti-Inflamatória do Chá Verde
O estresse oxidativo e a inflamação crônica de baixo grau são dois pilares no desenvolvimento e na progressão da hipertensão. O estresse oxidativo ocorre quando há um desequilíbrio entre a produção de espécies reativas de oxigênio (radicais livres) e a capacidade do corpo de neutralizá-las. Esses radicais livres podem danificar as células do endotélio e degradar o óxido nítrico, reduzindo sua biodisponibilidade e contribuindo para a disfunção endotelial.
O chá verde é uma das fontes mais ricas de antioxidantes na dieta humana. As catequinas são antioxidantes extremamente potentes que podem neutralizar diretamente os radicais livres e também aumentar a produção de enzimas antioxidantes endógenas do corpo, como a superóxido dismutase e a catalase. Além disso, a inflamação crônica contribui para o enrijecimento das artérias (arteriosclerose).
As catequinas do chá verde têm potentes propriedades anti-inflamatórias, inibindo vias de sinalização inflamatória como o fator nuclear kappa B (NF-κB). Ao proteger os vasos sanguíneos contra o dano oxidativo e a inflamação, o chá verde ajuda a manter sua elasticidade e flexibilidade, facilitando o controle da pressão arterial.
Inibição da Enzima Conversora de Angiotensina (ECA)
O sistema renina-angiotensina-aldosterona é um sistema hormonal complexo que desempenha um papel central na regulação da pressão arterial. Uma das enzimas chave neste sistema é a Enzima Conversora de Angiotensina (ECA), que converte a angiotensina I em angiotensina II. A angiotensina II é um peptídeo extremamente potente que contrai os vasos sanguíneos (vasoconstrição) e estimula a liberação de aldosterona, um hormônio que promove a retenção de sódio e água pelos rins, ambos os quais aumentam a pressão arterial.
Muitos dos medicamentos mais prescritos para hipertensão, como o Captopril e o Enalapril, funcionam como inibidores da ECA. Curiosamente, alguns estudos in vitro e em animais sugerem que as catequinas do chá verde podem atuar como inibidores naturais da ECA. Embora o efeito seja mais modesto do que o dos medicamentos farmacêuticos, essa inibição natural da ECA pode ser um dos mecanismos pelos quais o consumo regular de chá verde contribui para a manutenção de uma pressão arterial saudável a longo prazo.
Melhora da Função Endotelial
O endotélio é o revestimento interno de todos os nossos vasos sanguíneos. Longe de ser uma barreira passiva, é um órgão ativo e dinâmico que desempenha um papel crucial na regulação do tônus vascular e, consequentemente, da pressão arterial. Uma de suas funções mais importantes é a produção de óxido nítrico (NO), uma molécula sinalizadora que promove o relaxamento da musculatura lisa dos vasos sanguíneos (vasodilatação), permitindo que o sangue flua com menos resistência.
A disfunção endotelial, caracterizada pela redução da biodisponibilidade de óxido nítrico, é um dos primeiros passos no desenvolvimento da hipertensão e da aterosclerose. As catequinas do chá verde, especialmente a EGCG, demonstraram em múltiplos estudos melhorar a função endotelial ao aumentar a produção de óxido nítrico e promover o relaxamento dos vasos sanguíneos, o que ajuda a reduzir a pressão arterial.
Evidências Científicas do Consumo de Chá Verde e Redução da Hipertensão
A associação entre o consumo de chá verde e a redução da pressão arterial é apoiada por uma quantidade robusta de pesquisas epidemiológicas e ensaios clínicos randomizados.
Estudo de Longo Prazo em Taiwan (2004)
Um estudo publicado no Archives of Internal Medicine acompanhou mais de 1.500 pessoas em Taiwan por 5 anos. Os pesquisadores descobriram que aqueles que bebiam pelo menos 120 ml de chá verde por dia tinham um risco 46% menor de desenvolver hipertensão em comparação com os não bebedores. O benefício foi ainda maior para aqueles que consumiam mais de 600 ml por dia, que apresentaram um risco 65% menor.
Estudo Genético no UK Biobank (2022)
Um estudo publicado no Journal of the American Heart Association investigou a interação entre o consumo de chá e a genética. Os pesquisadores descobriram que, em indivíduos com uma predisposição genética para pressão alta, o consumo regular de chá (incluindo chá verde) estava associado a uma trajetória de pressão arterial mais baixa ao longo do tempo, sugerindo que o chá pode ajudar a mitigar o risco genético.
Meta-análise de Ensaios Clínicos (2014)
Uma meta-análise publicada na revista Therapeutic Advances in Cardiovascular Disease analisou 13 ensaios clínicos randomizados e concluiu que o consumo regular de chá verde resultou em uma redução média significativa de 1.98 mmHg na pressão arterial sistólica e 1.92 mmHg na pressão arterial diastólica. Embora essa redução possa parecer modesta, os autores destacam que, em nível populacional, uma redução de apenas 2 mmHg na pressão arterial sistólica pode diminuir o risco de AVC em 6% e o de doença coronariana em 4%.
Interações Medicamentosas do Chá Verde
Embora o chá verde seja seguro para a maioria das pessoas, sua alta concentração de compostos bioativos significa que ele tem o potencial de interagir com certos medicamentos. É crucial que pacientes que tomam medicamentos de uso contínuo conversem com seu médico ou farmacêutico.
Anticoagulantes (Varfarina)
O chá verde contém vitamina K, que desempenha um papel na coagulação do sangue. A varfarina (Coumadin) funciona antagonizando a vitamina K. O consumo de grandes quantidades de chá verde poderia, teoricamente, diminuir a eficácia da varfarina. Embora o risco seja baixo com o consumo moderado, a consistência é fundamental. Pacientes em uso de varfarina devem manter um consumo de chá verde estável para evitar flutuações em seu INR (Índice Internacional Normalizado).
Betabloqueadores (Nadolol)
Um estudo específico mostrou que o consumo de chá verde pode diminuir significativamente a absorção do betabloqueador nadolol, reduzindo sua eficácia no controle da pressão arterial e da frequência cardíaca. Acredita-se que as catequinas possam inibir um transportador intestinal (OATP1A2) responsável pela absorção do medicamento. Pacientes que tomam nadolol devem evitar consumir chá verde próximo ao horário de tomar o medicamento.
Estatinas
Algumas estatinas, como a sinvastatina, podem ter sua absorção afetada pelo consumo de chá verde. A interação não é grave, mas pacientes devem informar seu médico sobre o consumo regular de chá.
Medicamentos Quimioterápicos
O chá verde pode interagir com alguns medicamentos quimioterápicos, como o bortezomibe, potencialmente reduzindo sua eficácia. Pacientes em tratamento oncológico devem sempre consultar seu oncologista antes de consumir chá verde ou suplementos.
Microbioma Intestinal e Metabolização do Chá Verde

As folhas frescas de chá verde recém-colhidas, apresentadas em uma cesta tradicional de bambu, representam o início da jornada desta bebida milenar da planta até a xícara. A Camellia sinensis, planta originária do Leste Asiático, produz folhas ricas em compostos bioativos que, quando processadas minimamente, preservam uma concentração excepcional de polifenóis antioxidantes. O momento da colheita é crucial: folhas jovens e brotos contêm maior concentração de catequinas e L-teanina, aminoácido responsável pelo efeito relaxante e pela sinergia com a cafeína.
Uma área de pesquisa emergente e fascinante é a interação entre os polifenóis do chá verde e o microbioma intestinal. As catequinas não são totalmente absorvidas no intestino delgado; uma porção significativa chega ao cólon, onde é metabolizada pela vasta comunidade de bactérias que ali residem. Essa metabolização gera uma série de novos compostos, conhecidos como metabólitos microbianos, que podem ser absorvidos pela corrente sanguínea e exercer seus próprios efeitos biológicos.
Estudos recentes sugerem que alguns dos benefícios do chá verde para a pressão arterial podem ser mediados por esses metabólitos. Por exemplo, as bactérias intestinais podem quebrar as catequinas em moléculas menores, como os ácidos fenil-γ-valerolactonas, que demonstraram ter potentes efeitos vasodilatadores e anti-inflamatórios. Além disso, o próprio consumo de chá verde pode modular a composição do microbioma intestinal, favorecendo o crescimento de bactérias benéficas (como Akkermansia muciniphila e Bifidobacterium) e reduzindo a população de bactérias associadas à inflamação. Essa modulação positiva do microbioma pode, por si só, contribuir para a melhora da saúde metabólica e cardiovascular.
O Paradoxo da Cafeína
A cafeína é o composto psicoativo mais consumido no mundo e sua presença no chá verde é frequentemente fonte de preocupação para hipertensos. De fato, a ingestão de cafeína pode causar um aumento agudo e transitório na pressão arterial, principalmente em indivíduos que não a consomem regularmente.
Efeito Agudo da Cafeína
A cafeína pode causar um aumento temporário na pressão arterial porque bloqueia os receptores de adenosina nos vasos sanguíneos, impedindo o relaxamento vascular, e estimula a liberação de adrenalina, um hormônio que aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial.
Efeito Crônico e Tolerância
No entanto, o corpo humano é notavelmente adaptável. Com o consumo crônico e regular de cafeína, desenvolve-se uma tolerância a esses efeitos agudos. O número de receptores de adenosina pode aumentar, e a resposta do sistema nervoso simpático à cafeína torna-se atenuada. Para a maioria dos consumidores habituais de chá ou café, o impacto da cafeína na pressão arterial ao longo do dia é mínimo ou inexistente.
Sinergia dos Compostos do Chá Verde
Mais importante ainda, o chá verde não é apenas uma fonte de cafeína. É uma matriz complexa de centenas de compostos bioativos, e o efeito final na saúde é o resultado da sinergia entre todos eles. As catequinas, em particular, parecem ter um efeito benéfico e duradouro na saúde vascular que não apenas contrabalança, mas supera o efeito transitório da cafeína, tornando o consumo de chá verde uma estratégia benéfica a longo prazo.
Perguntas Frequentes Sobre Chá Verde e Hipertensão
Como devo preparar o chá verde para maximizar seus benefícios?
Para maximizar a extração de catequinas sem extrair amargor excessivo, prepare o chá verde com água quente, mas não fervente (idealmente entre 75°C e 85°C), por cerca de 2 a 3 minutos. Adicionar um pouco de suco de limão pode aumentar a absorção das catequinas no organismo, graças à vitamina C.
O efeito do chá verde é imediato?
Não. É fundamental entender que o chá verde não é um tratamento de emergência para a pressão alta. Os benefícios do chá verde na regulação da pressão arterial são o resultado do consumo regular e a longo prazo, através da melhora gradual da saúde vascular. O efeito agudo da cafeína pode, em alguns indivíduos sensíveis, causar um leve aumento temporário na pressão. É o efeito crônico e cumulativo dos polifenóis que traz o benefício sustentado.
Pessoas com pressão alta podem tomar chá verde?
Sim, para a maioria das pessoas, o consumo moderado de 2 a 3 xícaras de chá verde por dia é considerado seguro e pode ser benéfico como parte de um estilo de vida saudável para o coração. No entanto, é sempre crucial conversar com seu médico antes de fazer qualquer mudança significativa em sua dieta, especialmente se você já toma medicamentos para hipertensão. O chá verde pode interagir com certos medicamentos, incluindo alguns anticoagulantes (como a varfarina) e betabloqueadores (como o nadolol). A moderação é a chave.
Qualquer tipo de chá verde funciona?
Chás verdes de folhas soltas e de alta qualidade, como Sencha ou Gyokuro, tendem a ter uma concentração maior de catequinas e L-teanina em comparação com chás de saquinho de qualidade inferior. Portanto, eles podem ser mais eficazes. O Matcha, por ser um pó da folha inteira, também é uma fonte extremamente concentrada de compostos bioativos. No entanto, o mais importante é a consistência. É melhor beber um chá de qualidade média todos os dias do que um chá de altíssima qualidade apenas ocasionalmente.
Riscos e Efeitos Adversos Potenciais do Chá Verde
Apesar de seus benefícios, o consumo excessivo de chá verde pode apresentar riscos que devem ser considerados.
Anemia por Deficiência de Ferro
O chá verde, como outros chás, contém taninos que podem se ligar ao ferro de origem vegetal (não-heme) e reduzir sua absorção. Para pessoas com risco de deficiência de ferro, é aconselhável consumir o chá entre as refeições, e não junto com elas, para minimizar essa interação.
Hepatotoxicidade (Toxicidade no Fígado)
Casos raros de danos ao fígado foram associados ao consumo de altas doses de extratos de chá verde em suplementos. Acredita-se que isso se deva a concentrações extremamente altas de EGCG. É importante notar que esses casos estão ligados a suplementos superconcentrados, e não ao consumo de chá verde como bebida, que é considerado muito seguro. A recomendação é não exceder 800 mg de EGCG por dia na forma de suplementos.
Integrando o Chá Verde em um Estilo de Vida Saudável

O chá verde é um aliado poderoso para quem busca manter um estilo de vida saudável e ativo. Seus compostos bioativos não apenas auxiliam na queima de gordura e aceleração do metabolismo, mas também combatem a inflamação crônica, um fator subjacente em muitas condições que dificultam a perda de peso e o ganho de massa muscular. A L-teanina presente no chá verde também ajuda a reduzir o cortisol, hormônio do estresse que, quando elevado cronicamente, promove acúmulo de gordura abdominal.
O chá verde não é uma “cura milagrosa” para a hipertensão, mas as evidências científicas sugerem fortemente que ele pode ser um componente valioso de uma estratégia abrangente para a saúde do coração. Seu consumo regular, aliado a uma dieta equilibrada rica em vegetais, prática regular de exercícios físicos, controle do estresse e adesão ao tratamento médico prescrito, pode contribuir significativamente para a melhora da função vascular e a manutenção de níveis saudáveis de pressão arterial.
A chave é a consistência e a moderação. Incorporar 2 a 3 xícaras de chá verde de boa qualidade em sua rotina diária é uma maneira simples, prazerosa e baseada em evidências de investir na sua saúde cardiovascular a longo prazo. A pesquisa sobre o chá verde e a saúde cardiovascular está em constante evolução. Futuros estudos se concentrarão em doses ideais, diferenças individuais na resposta com base na genética e no microbioma intestinal, e comparações diretas de longo prazo entre diferentes tipos de chá.
Por enquanto, a mensagem é clara: o chá verde é mais do que uma bebida agradável. É uma fonte poderosa de compostos bioativos com múltiplos mecanismos de ação que apoiam a saúde do coração. Integrá-lo a um estilo de vida que já inclui uma dieta rica em vegetais, exercícios regulares e controle do estresse pode ser uma estratégia sinérgica e eficaz para a prevenção e o manejo da hipertensão arterial.
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