O chá de bugre, fruto da planta brasileira Cordia salicifolia, é um nome que ecoa nas conversas sobre emagrecimento e saúde natural. Conhecido popularmente como porangaba, pholia magra ou café-de-bugre, ganhou fama como um potente supressor de apetite e diurético. Mas, o que a ciência realmente diz sobre esses benefícios?
Este guia completo mergulha nas evidências científicas para separar os fatos dos mitos, explorando a rica história de uso tradicional, a composição química e os reais benefícios comprovados desta planta fascinante. Prepare-se para descobrir como usar o chá de bugre de forma segura e eficaz, com informações honestas e baseadas em estudos.
O Que é o Chá de Bugre?
Botânica e Nomenclatura
O chá de bugre é originário da Cordia salicifolia, uma pequena árvore da família Boraginaceae. Ela também é conhecida pelo sinônimo botânico Cordia ecalyculata Vell. A planta recebe uma variedade de nomes populares, incluindo porangaba, pholia magra, bugrinho, chá-de-frade, laranjeira-do-mato, cafezinho, café-do-mato e rabugem. Essa diversidade de nomes reflete sua ampla distribuição e uso em diferentes regiões do Brasil.
Distribuição Geográfica
Nativa do Brasil, a Cordia salicifolia é encontrada predominantemente nos estados de Minas Gerais, Bahia, Acre e Goiás. Sua presença também se estende a florestas tropicais da Argentina e do Paraguai, onde se adapta bem a climas quentes e úmidos. Essa ampla distribuição geográfica contribuiu para sua incorporação em diversas culturas e medicinas populares da América do Sul.
Características da Planta
A árvore do chá de bugre é de pequeno a médio porte, com folhas lisas e brilhantes. Seu fruto é uma pequena baga vermelha que se assemelha a um grão de café, o que lhe rendeu o apelido de “café-do-mato”. Tradicionalmente, esses frutos são torrados e moídos para preparar uma bebida que serve como substituto do café. As partes mais utilizadas para fins medicinais são as folhas, os frutos e, em menor grau, a casca.
História e Uso Tradicional
Uso na Medicina Popular Brasileira
Na medicina popular brasileira, o chá de bugre tem uma longa história de uso para diversos fins. Além de ser um substituto do café, ele é tradicionalmente empregado como um auxiliar no emagrecimento, devido à sua fama de suprimir o apetite e promover a diurese. Também é utilizado como um tônico cardíaco para estimular a circulação, como um remédio para aliviar tosses e como um agente para reduzir os níveis de ácido úrico. Seu uso tópico para cicatrização de feridas também é bem documentado na cultura popular.
O Fitoterápico Pholia Magra
A popularidade do chá de bugre como emagrecedor levou ao desenvolvimento do fitoterápico Pholia Magra, um produto comercial baseado no extrato de Cordia salicifolia. Este produto é amplamente comercializado no Brasil com a promessa de auxiliar na perda de peso. É importante notar que a concentração de compostos ativos em produtos industrializados pode ser diferente da encontrada no chá preparado de forma tradicional, o que pode influenciar seus efeitos e segurança.
Composição Química e Princípios Ativos do Chá de Bugre
Cafeína
A cafeína é um dos principais compostos ativos do chá de bugre, encontrada principalmente em seus frutos vermelhos. Estudos indicam que seu teor de cafeína é comparável ou até superior ao do chá verde e do guaraná. A cafeína é um estimulante do sistema nervoso central, conhecida por seus efeitos termogênicos (aumento do metabolismo) e diuréticos leves. Ela é a principal responsável pelos efeitos estimulantes da planta e também por alguns de seus efeitos colaterais, como insônia e taquicardia.
Alantoína
A alantoína é um composto cicatrizante bem estabelecido, presente nas folhas do chá de bugre. Sua eficácia na promoção da cura de feridas é comprovada por diversos estudos. Um estudo de Araújo et al. (2010), com 238 citações, demonstrou que a alantoína regula a resposta inflamatória e estimula a proliferação de fibroblastos, células essenciais para a regeneração da pele. Esse composto é amplamente utilizado em cosméticos e produtos dermatológicos para cicatrização.
Ácido Alantoico
Relacionado à alantoína, o ácido alantoico também contribui para as propriedades cicatrizantes da planta. Juntos, esses dois compostos explicam o uso tradicional do chá de bugre para tratar feridas externas e promover a regeneração da pele.
Outros Compostos do Chá de Bugre
Além da cafeína e da alantoína, o chá de bugre contém outros compostos importantes. O potássio, um eletrólito essencial, pode contribuir para seus efeitos diuréticos. A planta também é rica em taninos, cumarinas e flavonoides, compostos com potente ação antioxidante que combatem os radicais livres e protegem as células do corpo contra danos.
Benefícios para a Saúde: O Que a Ciência Diz Sobre o Chá de Bugre

A Cordia salicifolia, conhecida popularmente como chá de bugre ou porangaba, é uma pequena árvore nativa do Brasil que produz frutos vermelhos semelhantes a grãos de café. Esses frutos contêm cafeína e são tradicionalmente torrados e moídos como substituto do café. A planta é encontrada principalmente nos estados de Minas Gerais, Bahia, Acre e Goiás, adaptando-se bem a climas quentes e úmidos de florestas tropicais.
É crucial analisar os benefícios do chá de bugre com um olhar crítico, separando o que é uso popular do que é comprovado cientificamente. A seguir, apresentamos uma análise equilibrada baseada nos estudos disponíveis.
Efeito Hipolipidêmico (COMPROVADO)
Um dos benefícios mais bem documentados do chá de bugre é seu efeito hipolipidêmico, ou seja, a capacidade de reduzir os níveis de gordura no sangue. Um estudo de Siqueira et al. (2006), com 18 citações, demonstrou que a administração de extrato de Cordia salicifolia reduziu significativamente os níveis de triglicerídeos em ratos normais e diabéticos.
O estudo também revelou que esse efeito ocorre de forma independente do controle glicêmico, sugerindo um mecanismo de ação direto na regulação dos lipídios. Esse benefício é promissor para a saúde cardiovascular.
Emagrecimento e Perda de Peso (EVIDÊNCIAS MISTAS)
O uso do chá de bugre como emagrecedor é seu principal apelo popular, mas as evidências científicas são mistas. O mesmo estudo de Siqueira et al. (2006) não encontrou efeito antiobesidade na dose testada (20mg/kg por 13 dias). Contudo, um estudo mais recente de Nunes et al. (2022) observou que uma dose menor do extrato preveniu o ganho de peso em ratos e reduziu o peso corporal em ratos já obesos.
Tal contradição pode ser explicada por diferenças na dosagem, duração do estudo ou método de preparação do extrato. Portanto, embora haja potencial, mais estudos clínicos em humanos são necessários para confirmar a eficácia do chá de bugre para emagrecimento.
Supressor de Apetite (NÃO COMPROVADO)
A fama de supressor de apetite do chá de bugre também é questionada pela ciência. O estudo de Siqueira et al. (2006) não observou redução no consumo de alimentos. Por outro lado, o estudo de Nunes et al. (2022) relatou uma diminuição na ingestão de alimentos em ratos obesos. É possível que o efeito supressor de apetite seja sutil e dependente da dose, ou que seja um efeito secundário da cafeína presente na planta.
Efeito Diurético (NÃO COMPROVADO)
Apesar de seu uso popular como diurético, o estudo de Siqueira et al. (2006) não encontrou evidências de aumento da produção de urina. A cafeína possui um leve efeito diurético, o que pode explicar a percepção popular, mas o chá de bugre em si não parece ser um diurético potente nas doses estudadas.
Tônico Cardíaco
O uso tradicional do chá de bugre como tônico cardíaco foi validado por um estudo de 1997 com coelhos, que demonstrou atividade cardiotônica e aumento das ações cardiovasculares. No entanto, mais pesquisas são necessárias para entender os mecanismos e a segurança desse efeito em humanos.
Cicatrização de Feridas (COMPROVADO)
Graças à presença de alantoína e ácido alantoico, o efeito cicatrizante do chá de bugre é bem estabelecido. O mecanismo de ação da alantoína na promoção da regeneração da pele é bem documentado, o que valida o uso tópico da planta para tratar feridas.
Estudos da década de 1990 mostraram que o extrato de chá de bugre possui atividade antiviral contra o vírus da herpes e atividade tóxica contra células cancerosas in vitro. No entanto, esses estudos são preliminares e não foram replicados em humanos. Portanto, o chá de bugre não deve ser usado como tratamento para essas condições.
Modo de Preparo do Chá

As folhas secas do chá de bugre são a forma tradicional de consumo da planta na medicina popular brasileira. Para preparar o chá, utiliza-se de 1 a 2 colheres de sopa de folhas secas para cada 250ml de água fervente, deixando em infusão por 10 a 15 minutos. As folhas devem ser armazenadas em recipiente hermético, em local seco e escuro, para preservar seus compostos ativos. A qualidade das folhas pode ser avaliada pela cor (verde-acinzentada), aroma característico e ausência de mofo ou umidade.
Chá das Folhas (Infusão)
Para preparar o chá das folhas, utilize de 1 a 2 colheres de sopa de folhas secas para cada 250ml de água. Ferva a água, adicione as folhas e abafe por 10 a 15 minutos. Coe e consuma. A dosagem recomendada é de 1 a 3 xícaras por dia, preferencialmente pela manhã e à tarde, para evitar que a cafeína atrapalhe o sono.
Chá dos Frutos (Decocção)
O chá dos frutos, usado como substituto do café, é preparado por decocção. Utilize 1 colher de sopa de frutos secos para 250ml de água e ferva por 10 minutos. Coe e consuma. Lembre-se que os frutos têm maior teor de cafeína.
Dicas de Preparo
Para um melhor sabor e aproveitamento dos compostos, use água filtrada e evite adoçar o chá. Se necessário, utilize uma pequena quantidade de mel. O chá deve ser consumido fresco para garantir a preservação de seus compostos ativos. As folhas secas devem ser armazenadas em local seco e escuro.
Dosagens e Recomendações de Uso do Chá de Bugre

O pó de chá de bugre é obtido a partir da moagem das folhas ou frutos secos da Cordia salicifolia. Esta forma de apresentação é prática para o preparo de chás ou para encapsulamento em suplementos fitoterápicos. O pó concentra os compostos ativos da planta, incluindo cafeína, alantoína, taninos e flavonoides. É importante adquirir o pó de fornecedores confiáveis e armazená-lo em local seco e escuro para preservar suas propriedades medicinais. Fonte: Back To Your Roots Herbs.
Chá Tradicional
A dose recomendada para o chá tradicional é de 1 a 3 xícaras por dia. A dose equivalente usada em estudos é de aproximadamente 20mg/kg, o que corresponde ao uso popular no Brasil. Se o objetivo for a redução do apetite, o chá pode ser consumido antes das refeições.
Cápsulas e Extratos
Para cápsulas e extratos, é fundamental seguir a orientação do fabricante. As doses típicas variam de 300 a 500mg, 2 a 3 vezes ao dia. Dê preferência a produtos padronizados, que garantem uma concentração consistente de compostos ativos.
Duração do Tratamento
Estudos indicam que o uso contínuo do chá de bugre é seguro por até 90 dias. Recomenda-se fazer pausas de 1 a 2 semanas a cada 3 meses de uso. Para uso prolongado, é essencial consultar um profissional de saúde.
Contraindicações e Efeitos Colaterais
Quando Evitar o Chá-de-Bugre?
O chá de bugre deve ser evitado por gestantes e lactantes, pois não há estudos suficientes sobre sua segurança nessas condições. Pessoas com problemas cardíacos, como arritmia e taquicardia, devem evitar o consumo devido à cafeína. Indivíduos com insônia, ansiedade ou hipertensão não controlada também devem ter cautela. Um estudo em ratos demonstrou possível toxicidade reprodutiva em machos, portanto, homens em idade reprodutiva devem usar com moderação. O uso em crianças não é recomendado.
Efeitos Colaterais Possíveis
Os efeitos colaterais mais comuns estão relacionados à cafeína e incluem taquicardia, insônia, nervosismo, tremores, dor de cabeça e náusea. O aumento da frequência urinária também pode ocorrer.
Interações Medicamentosas
O chá de bugre pode interagir com certos medicamentos. Ele pode aumentar os níveis de lítio no sangue, potencializar o efeito de outros estimulantes e reduzir a eficácia de anti-hipertensivos. Pessoas que tomam medicamentos para o coração devem consultar um médico antes de usar.
Segurança e Toxicidade
Um estudo de Caparroz-Assef et al. (2005) demonstrou que o chá de bugre possui baixa toxicidade oral aguda (DL50 > 5000 mg/kg) e que seu uso por 90 dias não produziu efeitos tóxicos em ratos. Isso indica uma ampla margem de segurança quando consumido nas doses recomendadas.
Comparação com Outros Emagrecedores Naturais
Chá de Bugre vs. Chá Verde
Ambos contêm cafeína em níveis similares, mas o chá verde possui catequinas (como o EGCG), compostos com forte evidência científica para o efeito termogênico. O chá verde tem um corpo de pesquisa muito mais robusto validando seus benefícios para o emagrecimento.
Chá de Bugre vs. Café
O café geralmente possui mais cafeína (80-100mg por xícara) do que o chá de bugre (estimado em 30-50mg). Enquanto o café é um estimulante mais potente, o chá de bugre oferece outros compostos, como a alantoína. Ele pode ser uma alternativa mais suave para quem é sensível à cafeína do café.
Chá de Bugre vs. Guaraná
O guaraná é uma das fontes mais ricas de cafeína, com uma liberação mais lenta no corpo. Assim como o chá de bugre, as evidências para o emagrecimento são limitadas, e seu principal efeito é o estimulante.
Perguntas Frequentes
O chá de bugre realmente emagrece?
As evidências científicas são mistas. Enquanto o uso popular é forte, os estudos em animais mostram resultados contraditórios. Mais pesquisas em humanos são necessárias para uma conclusão definitiva. Ele pode ser um coadjuvante, mas não uma solução mágica.
Quanto tempo leva para ver resultados?
Os resultados variam muito entre indivíduos. Estudos em animais duraram de 13 a 90 dias. É importante ter expectativas realistas e combinar o uso com um estilo de vida saudável.
Posso tomar chá de bugre à noite?
Não é recomendado devido ao teor de cafeína, que pode causar insônia. O ideal é consumir pela manhã ou à tarde.
Chá de bugre tem cafeína?
Sim, especialmente nos frutos. O teor é comparável ao do chá verde. Pessoas sensíveis à cafeína devem consumir com moderação.
Qual a diferença entre chá de bugre e Pholia Magra?
Pholia Magra é um produto comercial padronizado, enquanto o chá tradicional é uma preparação caseira. A concentração de compostos ativos pode variar significativamente entre os dois.
Chá de bugre é seguro?
Sim, é considerado seguro nas doses recomendadas, com baixa toxicidade comprovada em estudos. No entanto, é crucial respeitar as contraindicações e consultar um profissional de saúde.
Conclusão
O chá de bugre é uma planta medicinal brasileira com um potencial terapêutico interessante, especialmente na redução de triglicerídeos e na cicatrização de feridas. Seu uso como emagrecedor, embora popular, ainda carece de evidências científicas robustas em humanos. A presença de cafeína confere propriedades estimulantes, mas também exige cautela no consumo.
Caso você decida experimentar o chá de bugre, faça-o de forma consciente, respeitando as dosagens e contraindicações. Lembre-se que não existe uma “pílula mágica” para o emagrecimento; a combinação de uma dieta equilibrada, exercícios regulares e hábitos de vida saudáveis continua sendo a estratégia mais eficaz e segura para uma perda de peso sustentável.
Referências e Estudos Científicos
- Siqueira, V.L.D., et al. (2006). Pharmacological studies of Cordia salicifolia Cham in normal and diabetic rats. Brazilian Archives of Biology and Technology.
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